sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Estado da Saúde em Portugal

Os dados mais recentes do Ministério da Saúde revelam que mais de 655 mil portugueses estão em listas de espera no Serviço Nacional de Saúde. Em Março de 2008, cerca de 474 mil utentes estavam inscritos para uma primeira consulta de uma especialidade médica. Na lista de espera para cirurgia estavam inscritos, em Setembro de 2008, 181 099 doentes. Não há dados mais recentes.
No Hospital Garcia de Orta, em Almada, o tempo médio de espera para uma ressonância magnética é de três anos. Como é que uma pessoa com problemas de coluna pode esperar três anos?', questiona José Luís Salles, da Comissão de Utentes da Saúde do Concelho do Seixal, um concelho que reclama há vários anos pela construção de uma unidade hospitalar.
'Geralmente, são os médicos de família que pedem consultas da especialidade. O alongado tempo de espera desactualiza todos os meios complementares de diagnóstico que o doente realizou', explica ao Correio da Manhã Santos Cardoso, presidente do Movimento de Utentes da Saúde.
Em Junho de 2006, o Governo criou o Sistema Integrado de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), que permite ao utente controlar a sua situação. 'O SIGIC é completamente falseado. Um doente espera meses ou anos por uma consulta, tem de realizar novos exames e só depois é que o médico o inscreve no sistema', afirma Santos Cardoso. A criação das 160 Unidades de Saúde Familiar não facilitou a vida aos utentes, diz José Luís Salles: 'Desde 2007 que há uma USF em Miratejo. Na altura havia 50 mil pessoas à espera de consulta, agora são 45 mil'.
TRÊS ANOS POR UMA CONSULTA
Filipe Lopes, aposentado da GNR, com 69 anos, espera há mais de três anos por uma consulta na especialidade de Otorrinolaringologia, no Hospital S. Teotónio, Viseu. O paciente está revoltado e já escreveu duas meses à ministra da Saúde. Diz que é um cidadão 'de um país de quinto mundo' que 'não quer saber dos seus doentes'.

Filipe mora em São Miguel de Vila Boa, Sátão, e sofre de apneia do sono e por vezes tem falta de ar. Há quatro anos recorreu a um médico particular que o informou de que uma operação à garganta no privado lhe custaria 'mais de 600 contos' [três mil euros]. O sexagenário decidiu marcar uma consulta no médico de família para que organizasse o processo para ser operado no Serviço Nacional de Saúde. 'Paguei os meus impostos durante 40 anos, tenho o direito a que o Estado me trate da saúde. O que se passa comigo é uma vergonha. Devem estar à espera que morra para depois quererem saber de mim.'

Luís Viegas, do Gabinete de Relações Públicas do Hospital São Teotónio, explicou ao CM que o paciente 'não tem qualquer consulta de otorrinolaringologia marcada' na unidade de Saúde. O responsável explicou que Filipe Lopes marcou uma consulta de patologia respiratória do sono, em 31 de Março de 2006, só que a especialidade apenas existe no S. Teotónio há ano e meio. 'O hospital dispõe de duas camas para a cura desta patologia e tem 272 pessoas inscritas na lista de espera. Acreditamos que este paciente será brevemente chamado à consulta.'
CIRURGIAS EM QUATRO MESES
Em Junho de 2008, o primeiro--ministro, José Sócrates, apresentou o Programa de Intervenção em Oftalmologia (PIO), no qual o Governo se comprometia a investir 28 milhões de euros para contratualizar com os hospitais públicos 75 mil primeiras consultas e 30 mil cirurgias em produção adicional, a realizar até Junho deste ano. No mês passado, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro, afirmou que o PIO estava a cumprir as expectativas e que até ao final do programa 'nenhum português esperará mais de cinco meses pela consulta e mais de quatro meses pela respectiva cirurgia'. Em Dezembro estavam 27 mil utentes à espera de cirurgia aos olhos.
RASTREIOS E CERIMÓNIAS
"NÃO HÁ PAÍS NO MUNDO SEM LISTAS DE ESPERA": Luís Pisco, Coordenador Missão Cuidados de Saúde Primários
Os últimos dados disponíveis, relativos a 2007/2008 apontam para mais de 400 mil portugueses à espera de uma primeira consulta de especialidade. Quem é que faz os pedidos de consultas?
Luís Pisco – A grande maioria dos pedidos é feita nos Centros de Saúde, através do médico de família mas também há pedidos realizados pela consulta externa dos hospitais e por médicos privados.
– Quanto tempo pode demorar uma primeira consulta?
– É difícil dizer, não tenho esses dados e depende de hospital para hospital e de especialidade para especialidade.
– Mas é razoável que um utente espere, por exemplo, três anos por uma primeira consulta?
– Uma espera tão longa não é normal, certamente que houve um mal-entendido até porque hoje em dia está tudo monitorizado. Sinceramente, não vejo como possa ser possível alguém esperar três anos por uma consulta de qualquer especialidade.
– Os números disponibilizados pelo Ministério da Saúde da lista de espera para cirurgias, no final de Setembro de 2008, apontava para cerca de 181 mil portugueses.
– Todos os esforços do Ministério da Saúde vão no sentido de melhorar os serviços de Saúde. Assistimos a uma tendência de melhoria.
– Provavelmente, está a comparar com anos anteriores, em que as listas eram maiores. No entanto, não são muitos doentes à espera, sobretudo se se comparar com outros países europeus?
– Penso que não há nenhum país no Mundo que não tenha listas de espera para cirurgias, até porque muitas operações não devem ser realizadas imediatamente. Uma mesma situação clínica pode ter tempos de espera diferentes em função do hospital de referência e dos meios existentes. E há muitas cirurgias, como as hérnias ou as varizes, que não são consideradas urgentes porque as verdadeiramente urgentes não têm que esperar.
O ESTADO DA SAÚDE
CENTROS DE SAÚDE
Médicos nos 346 C. S. em 2007:

5548 Medicina Geral e Familiar
919 Clínicos Gerais
22 Oftalmologistas
21 Pneumologistas
14 Ginecologistas/obstetras
8 Estomatologistas
7 Psiquiatras
7 Dentistas
Total: 7033 (em 2006 eram 7096)
HOSPITAIS
785 Ginecologistas/obstetras
582 Ortopedistas
416 Cardiologistas
408 Oftalmologistas
292 Otorrinolaringologistas
213 Urologistas
Consultas realizadas nos hospitais:
Ortopedia 699 380
Oftalmologia 650 069
Urologia 293 468Pediatria 38 986
Fonte: Direcção-Geral de Saúde/Dezembro 2008 (dados relativos a 2007)
MAIS PROCURADAS
As especialidades com mais procura para primeira consulta são as que têm listas de espera maiores: Ginecologia/Obstetrícia, Oftalmologia, Urologia e Ortopedia.
116 mil pessoas à espera da primeira consulta de Oftalmologia em Dezembro de 2007.
6,6 milhões urgências hospitalares registadas durante o ano de 2007.
85 377 partos realizados nos hospitais em 2007, menos três mil do que em 2006.
474 mil Utentes à espera de primeira consulta de especialidade, em Março de 2008.
181 099 doentes à espera de cirurgia. Tempo médio de espera: 6,1 meses, em Setembro de 2008.

AUMENTO: TAXAS MODERADORAS
Em 2008, a taxa moderadora de uma consulta no Centro de Saúde era 2,15 euros. Desde o dia 1 de Fevereiro deste ano que o utente passou a desembolsar 3,70 euros
Calcula-se que cerca de 500 mil portugueses não tenham médico de família, apesar da abertura de 160 Unidades de Saúde Familiar (USF) que beneficiam perto de 2 milhões de utentes.
Este é um resumo do estado da Saúde actual de Portugal. Correio da Manhã

3 comentários:

Anónimo disse...

As USF não foram criadas para resolver o problema dos utentes, mas para compensar os médicos que deixaram de ter o RRE. Ainda vieram "roubar" aos Centros de Saúde alguns profissionais que tão precisos eram para cuidar dos utentes que não estão inscritos em lista. E ficaram com as melhores instalações...

Anónimo disse...

Porque é que não existem USF no interior do país?...

Anónimo disse...

realmente são só interesses económicos...