terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pensamento

Boa noite a todos.
Ver este blog, o que ele contem e ver o numero de seguidores que o visitam provoca em mim alguma esperança no que diz respeito à tomada de consciência colectiva dos enfermeiros portugueses no que diz respeito à condição profissional mas também sobre as outras problemáticas presentes na sociedade e na área da saúde em particular. Quando ha cerca de dois anos nos reunimos com a intenção de formar um grupo de reflexão e debate sobre a enfermagem pensava que iria pessoalmente poder contribuir de forma mais afincada do que tenho feito para esta causa mas infelizmente a visa tem-me afastado deste projecto no entanto lembro a primeira reunião que organizamos em Lisboa para debater com representantes dos sindicatos e da OE, soluções para a situação dos enfermeiros portugueses. Dessa reuniao sobresairam desentendimentos e uma infelizmente clássica lavagem de roupa suja pouco construtiva entre os responsáveis presentes. Da parte dos organizadores ficou claro que pouco teríamos a esperar de organismos que dificilmente assumem o seu papel e preferem remeter a responsabilidade para os que a eles se opõem. Da minha parte tentei entrar numa estrutura organizada e bem rodada na defesa dos nossos interesses como deveriam ser os sindicatos. Ja na associação de estudantes no tempo de estudante tentei sempre levar a voz e a opinião dos que representava para que fossem ouvidos. No entanto, e embora tenha conhecido muitos colegas, que com abnegação e altruísmo, fazem das suas vidas uma constante devoção para o proveito de toda uma classe profissional, nao encontrei no sindicato o interesse simples pelos problemas dos meus colegas em cada serviço da instituição onde trabalhava na altura. O imperativo era a adesão à greve, o golpe mediatico de uma mobilização em peso dos enfermeiros, a afirmação política.
Sempre acreditei que a intervenção tem de começar pela base, pela luta junto dos colegas em cada instituição, sermos próximos dos problemas que tentamos resolver ou ajudar a resolver e que a greve é uma solução de ultimo recurso à qual se recorre quando tudo o resto falhou. Mas na minha situação sindical vi-me reduzido a distribuir panfletos apelando à greve e fazer a contagem dos que aderiam. Estava por isso longe do que pretendia realmente fazer e ia verificando a crescente desilusão dos meus colegas que por vezes aderiam à greve para nao seguirem turno se faltasse algum colega e outros que em vez de se reunirem durante a greve para debaterem a situação tornavam o momento em mais um dia de folga.
Sou um idealista e um utopista convicto mas nao consegui ver como ajudar a mudar uma situação tao adversa como os enfermeiros portugueses e claro eu próprio atravessava. Estava em Portugal numa situação relativamente segura com um bom contrato e um duplo invejavel mas uma situação familiar e pessoal precária. certas semanas a carga de trabalho podia atingir as 90 horas. Ferias era quando so trabalhava num sitio e quando so tinha um turno no dia parecia que nem tinha trabalhado com "tanto" tempo livre. Vivi uma realidade distorcida pela natural adaptação do ser humano a qualquer situação e o meu normal era inconcebível para muitos que nao estavam na nossa profissão. Descontente e inconformado procurei melhorar a minha vida na companhia de dois amigos e da minha futura mulher e assim descobrimos a oportunidade de trabalhar na Suíça.
A chagada tudo parecia quase impossível de conceber. Desde as condições de trabalho, a obrigação de descansar, de nao acumular muitos dias de trabalho seguidos, os ordenados, a qualidade de vida... Este últimos pormenor é importante para mim, a qualidade de vida. Afinal era possível ter qualidade de vida e ser enfermeiro. Existia um sitio que nao tendo ordem de enfermagem e pouco ou nenhuns sindicatos tinha desenvolvido um grande apreço pelos enfermeiros e seu trabalho e lhes conferia um nível de vida compensador de tudo o que enfermeiro estuda e investe na sua profissão. Dei por mim a sonhar mais alto, a pensar no que poderia realizar na minha vida num quinto do tempo que antes previa. Mas com as frequentes idas a Portugal continuei a ouvir as condições em que trabalhavam os meus colegas e amigos assim como o crescente desdém pela nossa profissão que se evidenciava nos jornais e revistas.
A distancia pouco ou nada poderia fazer mas mesmo assim encontrei uma solução para ajudar mesmo assim. Comecei entao a enviar os currículos de amigos e colegas que mo pediam, para instituições na Suíça e fui conseguindo encontrar trabalho para colegas de Viseu, Lisboa, Porto, Portalegre. Era isto que sempre tinha desejado conseguir. Isto pode ter sido uma gota num oceano mas para mim a verdadeira intervenção é a de proximidade, tentar ajudar concretamente colegas a saírem de situações precárias ou injustas. Por sua vez estes colegas ajudaram outros que poderão descobrir que se pode ser enfermeiros e ter uma vida decente e equilibrada e que o nosso trabalho tem um grande valor.
Naturalmente a emigração nao é solução para todos mas os exemplos de desenvolvimento social e laboral que aprendemos fora do nosso pais talvez um dia nos ajudem a mudar o que em Portugal esta a atrasar essa mesma evolução e encerra os portugueses numa continua crise que tem mais de 20 anos e que a cada ano se agrava e que todos pagamos cada vez mais sem que uma solução seja encontrada.

4 comentários:

Pratos de Ouro disse...

Gostaria muito que divulgasse o meu blog ou que o visitasse. As aventuras de um empregado Gourmet!

http://ohpirussas.blogspot.com/

Anónimo disse...

Se pudesse explicar como arranjou emprego na suiça agradecia já que estou interessada e é uma hipotese já considerada há muito tempo.
De facto a nossa situação não dá sinais de mudar, nem no horizonte infelizmente!
Obrigada

Unknown disse...

Arranjei emprego na Suiça atraves de uma empresa de colocaçao de pessoal mas aconcelho fortemente a mandar o curriculo directamente para os hospitais em frances. o cantao de Vaud onde moro sera o mais acessivel numa primeira fase pois nao exige o reconhecimento do nosso diploma pela Cruz Vermelha suiça para iniciar actividade profissional ao contrario das restantes regioes. Se for necessario mais informaçoes é so dizer

Anónimo disse...

Caro Colega

O seu testemunho é simplesmente fantástico... a enfermagem atravessa uma fase dificil e este país nao sabe dar valor aos profissionais... fico feliz por saber que existem sitios onde o prestigio e a valorização sao reconhecidas... a emigração é dura exige muita coragem e o abdicar de muitas coisas que nos sao inatas e familiares mas o risto é compensatório quando o ordenado nos permite vir várias vezes a portugal para visitas... neste momento nao tenho necessidade de sair mas fica uma janela aberta no caso de algo correr mal... tudo é ciclico e neste momento a procura é muito maior que a oferta, teremos que esperar uns 20 anos para que as escolas particulares sufoquem e fechem portas para voltar a ter margem de emprego... obrigado pelo testemunho, espero que o vosso grupo contribua para uma enfermagem melhor e reconehcida... parabéns