segunda-feira, 30 de maio de 2011

Urgências e internamentos duplicaram em Portugal

O número de urgências hospitalares quase que duplicou nos últimos 20 anos, passando de 6,4 milhões para mais de 11 milhões em 2008, ano em que se atingiu ainda um milhão de internamentos.
Os números são referidos pelo médico João Varandas Fernandes no livro «Três Olhares sobre o Futuro da Saúde», que será lançado na terça-feira em Lisboa.

O atual diretor clínico do Hospital de Cascais alerta que se nada for feito no curto e médio prazo «a insustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) agravar-se-á seguramente».

Num panorama ao desenvolvimento do setor, lembra que a despesa pública em saúde representa na primeira década deste século 7,5% do PIB, quando há 30 anos significava 0,2%.

Além do significativo crescimento do número de urgências, também as consultas apresentaram um aumento com peso: em 1960 eram oito milhões de consultas/ano e em 2008 eram já 47 milhões.

No mesmo período, os internamentos duplicaram, passando de 500 mil para um milhão.

Também o consumo de medicamentos mais do que duplicou em menos de 20 anos, atingindo os 1.780 milhões de euros em 2008, quando era de 716 milhões em 1990.



Por outro lado, nas últimas cinco décadas registou-se uma diminuição dos estabelecimentos de saúde. Em 1960 existiam 3.600 hospitais, centros de saúde e extensões, número que foi reduzido para 2.300 em 2008.

João Varandas Fernandes considera que o atual modelo «dá sinais preocupantes de decomposição, apresenta um elevado endividamento e está sob o efeito de fortes restrições orçamentais, que vão continuar a existir».

«É importante construir uma saúde mais livre, de melhor qualidade no aproveitamento dos recursos», argumenta.

O médico defende que os doentes deveriam ter liberdade de escolha entre públicos e privados, poder escolher o hospital, o médico ou o centro de saúde.

«A liberdade de escolha poderia existir em regiões onde o sistema público é insuficiente e os meios oferecidos não dão a melhor resposta», propõe.


O diretor clínico do Hospital de Cascais considera indispensável que os hospitais sejam remunerados de acordo com o grau de satisfação dos utentes e segundo padrões de qualidade e produção reconhecidos e acreditados.

No livro do qual é co-autor, juntamente com Adalberto Campos Fernandes e Pedro Pita Barros, João Varandas diz que não são precisos impostos específicos para a saúde, mas defende que as taxas moderadas no SNS deveriam ser indexadas à capacidade de pagamento e «não à prova que determina a isenção das taxas».

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