sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O problema é dos Administradores e Directores


A ministra da Saúde sustenta que o principal problema do sector é «organizacional», uma doença cujas causas estão nos «administradores e directores de serviço hospitalares». Para combater este problema, Ana Jorge recomenda «criatividade», mas avisa que «não basta mudar o nome aos hospitais».
Há um ano, quando aceitou substituir António Correia de Campos à frente do Ministério da Saúde - num clima de forte contestação por causa da reestruturação da rede de urgências -, Ana Jorge disse que acreditava no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Um ano depois, a ministra reafirmou a sua aposta nas virtudes do sistema, onde sempre trabalhou em exclusividade, e mostra-se mais conhecedora dos problemas.
«Um dos grandes problemas da saúde em Portugal é organizacional», disse, numa entrevista à Lusa a propósito dos 365 dias à frente do Ministério, que se assinalam esta quinta-feira. Na área hospitalar, «tem falhado muito o envolvimento das administrações e dos directores de serviço», declarou, considerando que são estes «os grandes responsáveis pelo funcionamento do serviço hospitalar e por envolver os seus profissionais».

Ana Jorge dá como «exemplo de sucesso» o Programa de Intervenção em Oftalmologia (PIO), através do qual foram realizadas mais de 15 mil cirurgias, uma medida que a ministra elege como a «mais emblemática» do seu mandato. A «chave do sucesso foi o envolvimento dos profissionais e, nomeadamente, dos directores dos serviços de oftalmologia», considera.
A ministra preconiza mudanças, mas não só ao nível do nome, numa referência à transformação dos hospitais em Sociedades Anónimas (SA) e, mais tarde, em Entidades Públicas Empresariais (EPE). Para Ana Jorge, «existem alguns hospitais EPE com os profissionais mobilizados e outros que se esqueceram que precisam dos profissionais» de saúde. «Assim não dá, pois só muda o nome», salientou.

Estas instituições dispõem de «todos os instrumentos» para a resolução dos problemas, afirmou a ministra, para quem alguns hospitais EPE padecem de falta de criatividade e não usam a autonomia de que dispõem. «Porque não mudaram o conceito de organização das equipas de urgência (criar equipas específicas, por exemplo)?», questionou a ministra, lembrando que os hospitais EPE «não precisam da tutela para o fazer».
Ana Jorge não tem dúvidas de que «ninguém ganha com esta inoperância». Pelo contrário, «todos perdem: utentes, médicos e o sistema». A ganhar ficaram os doentes que foram operados através do PIO. A receita de sucesso deverá aplicar-se, ainda durante a actual legislatura, às especialidades de urologia e dermatologia. No caso da urologia, as intervenções implicam internamento, ao contrário da oftalmologia que é tratada com cirurgia de ambulatório.

Quanto à venda de medicamentos por unidose, uma medida anunciada pelo primeiro-ministro no início da legislatura, só deverá avançar no final do ano e a título experimental.
Ana Jorge ultrapassa o primeiro ano à frente da pasta da Saúde sem as polémicas que marcaram o mandato do seu antecessor, mas mantendo as linhas estratégicas traçadas por António Correia de Campos, nomeadamente na reestruturação da rede das urgências. O encerramento dos horários nocturnos de vários centros de saúde, que ainda não se concretizou porque faltam três helicópteros do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), é o próximo passo desta reestruturação.

Os helicópteros deverão chegar em breve para Macedo de Cavaleiros, Aguiar da Beira e Ourique, mas a ministra não conta fechar ainda os SAP, preocupada com o sentimento de segurança que os mesmos dão às populações. «Vamos ter que trabalhar muito com a população e os seus responsáveis», disse, revelando que o encerramento não deverá acontecer antes do fim do ano e já com um novo Governo em funções.

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