quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Médicos a menos, taxas a mais (ACTUALIZADA)


O fecho de maternidades e de Urgências nos hospitais e centros de saúde, a introdução das taxas moderadoras para internamentos e cirurgias, a falta de médico de família para milhares de portugueses, listas de espera prolongadas para cirurgias e primeiras consultas, a entrada dos privados na gestão dos hospitais e a derrapagem da despesa na área do medicamento – são vastas as críticas às reformas na Saúde nos últimos quatro anos. Mas, apesar das críticas de profissionais e utentes, e de os números comprovarem que os hospitais públicos com gestão empresarial aumentaram o prejuízo, o Governo continua a garantir que os serviços públicos "são melhores do que os privados", como disse ontem a ministra Ana Jorge.
As parcerias público-privadas (PPP), em que os grupos empresariais gerem os hospitais públicos, são uma das ameaças que põem em risco o acesso aos cuidados de saúde e o Serviço Nacional de Saúde. As críticas são de Mário Jorge Neves, presidente da Federação Nacional dos Médicos, que dá o exemplo da Grã--Bretanha. 'O que é público deve ser público e o que é privado deve ser privado. As PPP seguem o modelo inglês, que é o descalabro total, com os consórcios privados a gerirem dinheiros públicos.'
Baseando-se na experiência inglesa, o dirigente aponta um cenário provável para Portugal: 'É o endividamento crescente das estruturas com aumentos dos gastos dos dinheiros públicos, que vão sempre muito para além do previsto nos contratos. A busca pelo lucro leva os gestores privados a poderem, eventualmente, proceder a restrições bastante acentuadas na prestação dos cuidados, como encerrar serviços, diminuir o número de camas de internamento e fazer restrições nos Serviços de Urgência.' A isto acrescem eventuais cortes nos cuidados mais diferenciados e mais caros, caso da oncologia, ou a redução de exames complementares de diagnóstico, como se a saúde 'se tratasse de um supermercado.'
Carlos Fraga, do Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos, lamenta que o estado da Saúde esteja tão 'débil e doente'. 'Aumentam as listas de espera, há um milhão e duzentos mil portugueses sem médico de família e os doentes pagam taxas moderadoras, incluindo as de internamento e cirurgia, que devem ser abolidas porque penalizam muito os doentes.' CM

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