domingo, 31 de maio de 2009

Enfermeiros oncológicos sem meios


O diagnóstico está traçado há algum tempo: os doentes oncológicos vão ser cada vez mais e vão viver até mais tarde. Em consequência, os cuidados paliativos serão cada vez mais importantes. Mas serão os hospitais a dar resposta prioritária a esta realidade? Para a Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa (AEOP), a resposta é negativa. Os profissionais de saúde devem acompanhar os pacientes em casa e colocar o centro dos tratamentos na rede familiar.
No entanto, os meios instalados no terreno são ainda muito rudimentares. "Temos muito que trabalhar nesse campo e os recursos são diminutos. O trabalho com doentes oncológicos requer uma grande humanização e o espaço familiar é privilegiado", disse ao CM Jorge Freitas, presidente da AEOP, abordando um dos temas centrais da discussão da segunda reunião nacional que se realizou recentemente em Vila Nova de Gaia. "Este é um dos maiores desafios da classe", acrescentou.
A ideia é partilhada pela enfermeira Lília Castro, há muitos anos a trabalhar no IPO Porto e com larga experiência em trabalho domiciliário. "São necessárias equipas multidisciplinares que façam o acompanhamento em casa dos doentes. É fundamental ir até às pessoas e mostrar-lhes como é que se faz o curativo, como se vira uma pessoa na cama e como se ministra uma injecção. São coisas que é preciso fazer com o familiar", explicou.
A enfermeira recordou uma história que demonstra o estado precário deste processo. "Um dos nossos doentes tinha a mulher a trabalhar fora e eram os dois filhos, de 11 e seis anos, que cuidavam dele. O mais velho não ia muitas vezes à escola para estar com o pai, que tinha medo de estar sozinho. Não havendo solução na comunidade, acabou internado."
O IPO tem apenas uma equipa que acompanha as famílias em casa. "Ainda vamos muito ao domicílio, mas a ideia é formar os enfermeiros dos centros de saúde que podem descentralizar o serviço", referiu a enfermeira.
Outra questão a melhorar é a especialização de enfermeiros oncológicos. "Existem nos IPO e nas unidades hospitalares com serviços oncológicos, mas faltam ao nível dos centros de saúde, onde é preciso apostar", acrescentou Lília Castro. Para Jorge Freitas, a especificidade da função assim o exige. "Pela necessidade de conhecimento das técnicas, bem como pela constante alteração das drogas a ministrar." CM

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa noite, eis uma temática interessante. Verificamos cada vez mais as altas precoces, sem o devido planeamento e a falta de articulaçao de cuidados entre o contexto hospitalar e comunitario. Consequentemente aumenta o numero de doentes em contexto domiciliario, muitas vezes sem redes de suporte o que é uma ameaça à sua dignidade enquanto pessoas. É fundamental apostar nos cuidados continuados, em que doente/familia podem ter em casa com o apoio da saude e social, mas para isso é necessario um trabalho de retuarguarda que começa na integraçao da familia no cuidar do doente oncologico em contexto hospitalar. É muito importante a vertente paliativa no acompanhamento da pessoa com doença oncologica. Mas o que significa palear? alivio de sinais e sintomas. Para tal,é necessario fomentar a formaçao pessoal e profissional de quem trabalha e quer trabalhar nessa area.Verifica-se na prática a prestaçao de acçoes paliativas isoladas, contudo nao tem a visao do todo e nao correspondem aos cuidados paliativos, que contemplam um trabalho em equipa multidisciplinar para o todo que é po ser humano. Dai é urgente criar equipas de cuidados paliativos intra-hospitalares, tl como existe no IPO Lx e Porto, criar e melhorar as equipas existentes em contexto comunitario e sobretudo melhorar o funcionamento da rede de referenciaçao, pois a lista de espera nao permite muitas vezes o acesso dos doentes a estas unidade de cuidados paliativos. Mas o importante em Portugal é o jogo da taça porto-paços de ferreira.
*CN*