terça-feira, 26 de maio de 2009

HUC: Manuel Antunes não cede na ameaça de deixar direcção


O cirurgião Manuel Antunes advertiu hoje que «não cede» na decisão de se demitir de director da Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) caso a administração persista em mexer na sua equipa.
«Espero que o conselho de administração reveja a sua posição, senão vamos ter uma situação difícil para os dois lados. Não vou ceder nesta minha posição. Na equipa que ganha não se mexe», frisou, em declarações à Lusa.
Manuel Antunes ressalva que «continuará a tratar dos doentes».
Em causa está uma proposta da administração, decorrente da empresarialização do hospital, para que alguns dos enfermeiros e profissionais da equipa de Manuel Antunes reduzam de 42 para 35 as horas de trabalho semanal, contratando outros para compensar as restantes horas.
«Isto teria um impacto devastador na qualidade e eficiência do Centro, não consigo gerir um serviço desta maneira», disse Manuel Antunes, classificando a decisão como uma «medida economicista».
O cirurgião acusa o conselho de administração dos HUC de referir o Centro de Cirurgia Cardiotorácica «como mérito próprio quando lhe convém» e garante que a situação «já causou estragos muito grandes na equipa».

«A equipa está em pé de guerra, é como se tivesse entrado um elefante numa loja de loiça de porcelana», disse.
A intenção de Manuel Antunes foi anunciada pelo próprio num almoço-convívio do Circulo de Amigos da Cirurgia Cardiotorácica, realizado domingo em Fátima, e noticiada pelo Diário de Coimbra e Público.
«Decidi que tinha de pôr as cartas na mesa, batendo-as bem, como um bom jogador faz», disse hoje à Lusa.
Manuel Antunes considera falaciosos os argumentos da administração, que até agora se remeteu ao silêncio, e sublinha que a filosofia do Centro que dirige é a da exclusividade (42 horas semanais).
A administração - referiu o cirurgião - «alega que estes profissionais, que se foram diferenciando, têm agora um preço mais caro e que ao contratar novos cumpre a sua função social».

«Isto tem duas falácias: um centro de responsabilidade tem um estatuto jurídico próprio que transcende o hospital e estão a querer trocar experiência por inexperiência, qualidade por qualidade duvidosa, dedicação por ponto de interrogação», afirmou.
O especialista frisa que a «missão principal de um hospital é tratar doentes» e que «há gente que programou a sua vida a ganhar ‘x’».
Entretanto, em declarções à agência Lusa, António Arnault, o «pai» do Serviço Nacional de Saúde, sai em defesa de Manuel Antunes.
«As razões da administração não podem prevalecer sobre critérios técnicos», afirmou, referindo que espera «bom senso das duas partes» para se evitar a ruptura.
Contactado pela Lusa, o presidente do conselho de administração dos HUC, Fernando Regateiro, informou que não pretende pronunciar-se sobre o assunto. Lusa

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