segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Obsessão com gripe A em Portugal evitou pânico


A epidemia da gripe tornou-se num dos assuntos mais mediáticos do ano em Portugal, continuando a a abrir telejornais quando em muitos países já raramente era notícia. Tanta atenção à doença acabou por ter, sobretudo, efeitos positivos: foi pedagógica e evitou o pânico, dizem os especialistas.
A comunicação sobre a gripe A em Portugal foi, em geral, pedagógica e informativa: além de evitar o pânico, conduziu a comportamentos preventivos contra o vírus, como a lavagem frequente das mãos, consideram os peritos ouvidos pela Lusa.
Porém, houve casos, como o da morte de grávidas e fetos, em que a comunicação social não terá feito «um enquadramento aprofundado», diz o sociólogo Francisco Rui Cádima.
«Houve, eventualmente, um tratamento enviesado por parte de alguma comunicação social que terá levado à criação de boatos como o da vacina poder ser prejudicial», considera.
Para o sociólogo, os media têm de «assumir a sua responsabilidade social e não condescender minimamente em relação a formas especulativas, sensacionalistas ou meramente estatísticas porque isso desencadeia atitudes negativas por parte do público em relação aos problemas».

No entanto, considera demasido «arriscado» responsabilizar os meios de comunicação por as grávidas não aderirem à vacinação, como fizeram as autoridades de saúde: «Uma entidade pública ou privada não deve fazer esse tipo de pronunciamento sem ter um estudo com uma base minimamente sólida».
Já para o director da Escola Nacional de Saúde Pública, Constantino Sakellarides, «o nível de cobertura mediática foi bastante adequado em termos de intensidade e bastante pedagógica em termos de conteúdo», sublinhando que contra uma pandemia de gripe, a primeira e mais importante arma é a vacinação e depois a comunicação.
Sakellarides diz que o bom tratamento de informação deveu-se, em parte, ao «grande esforço de comunicação das autoridades de saúde», que permitiu que «a informação fosse constante e precoce», o que não aconteceu em países como os Estados Unidos.

Para o pneumologista António Diniz, «os portugueses não estão aterrorizados com a gripe, embora tenha sido, de alguma forma, uma coisa que os sensibilizou», levando-os a adoptar «comportamentos de defesa».
Quanto à comunicação feita pelos media e pelas autoridades de saúde, afirmou que «perante situações novas é difícil que todas as pessoas tenham sempre as atitudes mais correctas», mas no geral foi um «bom trabalho»: «O resultado final é que o que se passa em Portugal, não se afasta do que existe em países com estruturas de saúde tão boas ou melhores do que as nossas».
Sakellarides salientou que a pandemia levou a mudanças de atitudes das pessoas em relação à gripe, quando se aperceberam de que é uma doença que «merece respeito»: e assim, a partir de agora, «quando chegarmos aos Invernos vamos ter, talvez, um comportamento melhor do que tínhamos até agora». Lusa

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